Por séculos considerado um universo predominantemente masculino, o cenário dos jogos de azar na América Latina vem passando por uma transformação radical graças ao crescente protagonismo feminino. Das proibições históricas às campeãs atuais, as mulheres estão reescrevendo as regras desse jogo.
As Pioneiras: Quando Jogar Era Proibido
Nos tempos coloniais, as mulheres eram expressamente proibidas de participar de jogos de azar. Documentos do século XVIII no México mostram multas aplicadas a mulheres pegas jogando cartas. No Brasil imperial, as “jogadeiras” eram consideradas imorais e frequentemente denunciadas à Igreja.
Algumas corajosas desafiaram essas normas: na Argentina do século XIX, a lendária “Juana de Arco de los Naipes” organizava rodas clandestinas de truco feminino. Em Cuba, as “socias” do jogo clandestino “Charada China” criaram uma rede subterrânea de apostas exclusivamente feminina.
As Primeiras Profissionais
O século XX trouxe as primeiras rupturas significativas. Em 1930, a mexicana María de la Luz se tornou a primeira mulher a trabalhar como crupiê em um cassino legalizado. Nos anos 1950, a brasileira Odete Roitman ganhou notoriedade como a “Rainha do Bingo” no Rio de Janeiro.
Os anos 1970 viram surgir as primeiras empresárias do setor: a chilena Elena Caffarena fundou uma cadeia de salões de jogo, enquanto a venezuelana Carmen Clemente criou o primeiro sindicato de funcionárias de cassino da região.
As Campeãs Modernas
O novo milênio trouxe uma explosão de talento feminino. A argentina Lucia Spina se tornou a primeira latino-americana a vencer um torneio mundial de pôquer. A colombiana Marcela Torres revolucionou o blackjack profissional com estratégias inovadoras.
No campo das apostas esportivas, a peruana Daniela Vargas e a brasileira Renata Fontes se destacaram como analistas de renome internacional. E no pôquer online, jovens como a mexicana Ana Paula González estão dominando os torneios virtuais.
Liderança nos Negócios
Hoje, mulheres ocupam posições de destaque na administração do setor: a costarriquenha Laura Chinchilla dirige uma das maiores redes de cassinos da América Central; a uruguaia María Noel Acevedo comanda o principal resort cassino de Punta del Este; e a panamenha Gabriela Brenes é CEO de uma plataforma inovadora de jogos online.
Essas executivas estão promovendo mudanças significativas: criação de ambientes mais seguros para mulheres, programas de mentoria para jovens profissionais e campanhas contra o assédio nos espaços de jogo.
Desafios e Conquistas
Apesar dos avanços, persistem desafios: diferenças salariais, estereótipos de gênero e casos de discriminação. Mas as conquistas são inegáveis: hoje, cerca de 35% dos profissionais do setor na região são mulheres, número que cresce a cada ano.
Torneios exclusivos para mulheres, comunidades de apoio e iniciativas educacionais estão fortalecendo essa presença. A história que começou com proibições agora se escreve com recordes quebrados, negócios inovadores e uma nova geração pronta para continuar transformando este jogo.